A Linha Branca de Umbanda está perfeitamente enquadrada na doutrina de Allan Kardec e nos livros do grande codificador, nada se encontra susceptível de condená-la.
Cotejemos com os seus escritos os princípios da Linha Branca de Umbanda, por nós expostos no “Diário de Notícias”, edição de 27 de novembro de 1932.
A organização da linha no espaço corresponde à determinada zona da Terra, atendendo-se, ao constituí-la, as variações de cultura e moral intelectual, com aproveitamento das entidades espirituais mais afins com as populações dessas paragens.
Allan Kardec, a página 219 do “Livro dos Espíritos” escreve:
“519. As aglomerações de indivíduos, como as sociedades, as cidades, as nações, tem espíritos protetores especiais”.
“Tem, pela razão de que esses agregados são individualmente coletivas que, caminhando para um objetivo comum, precisam de uma direção superior.”
“520. Os espíritos protetores das coletividades são de natureza mais elevada do que os que se ligam aos indivíduos?”
“Tudo é relativo ao grau de adiantamento, que se trate de coletividades, que de indivíduos”.
E quanto as afinidades na mesma página:
“Os espíritos preferem estar no meio dos que se lhes assemelham, acham-se aí mais à vontade e mais certos de serem ouvidos. Por virtude de suas tendências, é que o homem atrai os espíritos, e isso quer esteja só, quer faça parte da sociedade, uma cidade, ou um povo. Portanto, as sociedades, as cidades e os povos são, de acordo com as paixões e o caráter neles predominantes, assistidos por espíritos mais ou menos elevados”.
Os protetores da Linha Branca de umbanda se apresentam com o nome de caboclos e pretos, porém, frequentemente, não foram nem caboclos nem pretos.
Allan Kardec, a página 215 do “Livro dos Espíritos”, ensina: “Fazei questão de nomes: eles (os protetores) tomam um, que vos inspire confiança”.
Mas como poderemos, sem o perigo de sermos mistificadores, confiar em entidades que se apresentam com os nomes supostos? Allan Kardec, a página 449 do “Livro dos Espíritos”, esclarece:
“Julgai, pois, dos espíritos, pela natureza de seus ensinos. Não olvideis que entre eles há os que ainda não se despojaram das idéias que levaram da vida terrena. Sabei distingui-los pela linguagem de que usam. Julgai-os pelo conjunto do que vos dizem; vede se há encadeamento lógico em suas idéias; se nestas nada revela ignorância, orgulho ou malevolência; em suma, se suas palavras trazem todo o cunho de sabedoria que a verdadeira superioridade manifesta. Se o vosso mundo fosse inacessível ao erro, seria perfeito, e longe disso se acha ele”.
Ora, esses espíritos de caboclos ou pretos, e os que como tais se apresentam, pela tradição de nossa raça, e pelas afinidades de nosso povo, são humildes e bons, e pregam, invariavelmente, sem solução de continuidade, a doutrina resumida nos dez mandamentos e ampliada por Jesus.
Entre os protetores da Linha Branca, alguns não são espíritos superiores, e os há também atrasados, porém, bons, quando o grau de cultura dos protegidos não exige a assistência de entidades de grande elevação, conforme o conceito de Allan Kardec, a página 216 do “Livro dos Espíritos”:
“Todo homem tem um espírito que por ele vela, mas as missões são relativas ao fim que visam, não dais a uma criança, que está aprendendo a ler, um professor de filosofia”, e em trecho já transcrito explica: “que tudo é relativo ao grau de adiantamento, quer se trate de coletividades, quer de indivíduos”.
Esses trabalhadores, porém, na Linha Branca, estão sob a direção de guias de maior elevação, de acordo com o dizer de Allan Kardec a pagina 318 do “Livro dos Espíritos”, sobre os espíritos familiares, que “são bons, porém, muitas vezes pouco adiantados e até levianos. Ocupam-se de boa mente com as particularidades da vida íntima e só atuam com ordem ou permissão dos espíritos protetores”.
O objetivo da Linha Branca é a prática da caridade e Allan Kardec, no “Evangelho Segundo o Espiritismo”, proclama repetidamente que “fora da caridade não há salvação”.
A Linha Branca, pela ação dos espíritos que a constituem, prepara um ambiente favorável a operosidade de seus adeptos. Será isso contrário aos preceitos de Allan Kardec? Não, pois vemos, nos períodos acima transcritos que os espíritos familiares, com ordem ou permissão dos espíritos protetores, tratam até de particularidades da vida íntima. No mesmo livro, a página 221-22, lê-se:
“525. Exercem os espíritos alguma influencia nos acontecimentos da vida?”
“Certamente, pois que te aconselham.”
“-Exercem essa influência, por outra forma que não apenas pelos pensamentos que sugerem, isto é, tem ação direta sobre o cumprimento da coisa?”
“Sim, mas nunca atuam fora das leis da natureza”.
Na página 214 do “Livro dos Espíritos” consta:
“A ação dos espíritos que vos querem bem é sempre regulada de maneira que não vos tolha o livre arbítrio” e a página 222 o mestre elucida:”
“Imaginamos erradamente que aos espíritos só caiba manifestar sua ação por fenômenos extraordinários. Quiséramos que nos viessem auxiliar por meio de milagres e os figuramos sempre armados de uma varinha mágica. Por não ser assim, é que oculta nos parece a intervenção que tem nas coisas deste mundo, e muito natural o que se executa com o concurso deles”.
“Assim é que, provocando, por exemplo, o encontro de duas pessoas que suporão encontrar-se por acaso; inspirando a alguém a idéia de passar por determinado lugar; chamando-lhe a atenção para certo ponto, se disso resultar o que tenham em vista, eles obram de tal maneira que o homem, crente de que obedece a um impulso próprio, conserva sempre o seu livre arbítrio”.
Assim, os caboclos e pretos da Linha Branca de Umbanda, quando intervém nos atos da vida material, em beneficio desta ou daquela pessoa, agem conforme os princípios de Allan Kardec.
Na Linha Branca, o castigo dos médiuns e adeptos que erram conscientemente, é o abandono em que os deixam os protetores, expondo-os ao domínio de espíritos maus.
A página 213 do “Livro dos Espíritos” Allan Kardec leciona: "496. O espírito, que abandona o seu protegido, que deixa de lhe fazer bem, pode fazer-lhe mal?”
“Os bons espíritos nunca fazem mal. Deixam que o façam aqueles que lhe tomam o lugar. Costumais então lançar a contar da sorte as desgraças que vos acabrunham, quando só as sofreis por culpa vossa”.
E adiante, na mesma página:
“498. Será por não poder lutar contra espíritos malévolos que um espírito protetor deixa que seu protegido se transvie na vida?”
“Não é porque não possa, mas porque não quer”.
A divergência única entre Allan Kardec e a Linha Branca de Umbanda é mais aparente do que real. Allan Kardec não acreditava na magia, e a Linha Branca acredita que a desfaz. Mas a magia tem dois processos: o que se baseia na ação fluídica dos espíritos, e esta não é contestada, mas até demonstrada por Allan Kardec. O outro se fundamenta na volatilização da propriedade de certos corpos, e o glorioso mestre, ao que parece, não teve oportunidade, ou tempo, de estudar esse assunto.
Nas últimas páginas 356-357 de suas “Obras Póstumas’, os que as coligiram observam, sob a assinatura de P. G. Laymarie:
“no congresso espírita e espiritualista de 1890, declararam os delegados que, de 1869 para cá, estudos seguidos tinham revelado coisas novas e que, segundo o ensino tração por Allan Kardec, alguns dos princípios do Espiritismo, sobre os quais o mestre tinha baseado o seu ensino, deviam ser postos em relação com o progresso da ciência em geral realizados nos 20 anos”.
Depois dessa observação transcorreram 42 anos e muitas das conclusões do mestre tem de ser retificadas, mas a sua insignificante discordância com a Linha Branda de Umbanda desaparece, apagada por estas palavras transcritas do “Livro dos Espíritos”, páginas 449-450:
“Que importam algumas dissidências, divergências mais de forma do que de fundo? Notai que os princípios fundamentais são os mesmos por toda a parte e vos hão de unir num pensamento comum: o amor de Deus e a prática do bem”
E o amor de Deus e a prática do bem são a divisa da Linha Branca de Umbanda.
Fonte: Livro: O Espiritismo, A Magia e as Sete Linhas de Umbanda
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