sexta-feira, 15 de julho de 2011

Silêncio é prece? O objetivo das músicas, dos cânticos e dos pontos cantados



Pai João e Vovó Catarina entoavam uma música diferente; à medida que cantavam, os fluidos atmosféricos vibravam de maneira peculiar, ao mesmo tempo em que eram atraídos pelas auras desses companheiros abnegados:

Aruanda é longe, e ninguém vai lá... É só os pretos-velhos que vai lá e torna a voltar!

Wallace saiu de seu silêncio com lágrimas nos olhos e disse:

- Nossos amigos entoam o chamado ponto de Aruanda. É uma evocação das falanges espirituais às quais pertencem. Os fluidos que se aglutinam em suas auras e nas nossas, enquanto eles entoam seu ponto de firmeza, são elementos vibratórios enviados das comunidades espirituais do Mais Alto. Ao entoarem a cantiga de Aruanda, suas mentes projetam vibrações intensas e poderosas, e assim se estabelece uma ponte entre nós e as comunidades elevadas do plano espiritual.

Notei que milhares de filamentos dourados pareciam flutuar à nossa volta. Eram minúsculos, quase microscópios, no entanto somavam-se uns aos outros. Brilhavam intensamente em torno de nós e formavam uma rede finíssima, que irradiava de cada um de seus filamentos uma luminosidade suave e agradável, inspirando-nos serenidade, refazendo nossas energias.

A música cantada pelos pretos-velhos estabelece uma ponte de ligação com aqueles espíritos que nos tutelam, do Alto. Faz vibrar o ambiente astral no qual nos movimentamos, que repercute diante das ondas superiores evocadas com coração, e atrai os riquíssimos elementos de energia dispersos na natureza e condensados pelos elementais. A música ou a cantiga, como no caso dos pontos dos pretos-velhos, eleva a vibração e reequilibra nossos pensamentos, muitas vezes vacilantes, produzindo harmonia em torno de nós.

É pena que muitos amigos encarnados desconheçam o poder da alegria, da música e dos cânticos de ordem elevada, pois, do contrário, estimulariam as pessoas a cantarem mais nas casas espíritas. Diversas vezes, as reuniões se assemelham a procissão de velório, tal o silêncio constrangedor e enganador.

Falo da cultura que se propagou em muitas casas espíritas, nas quais com frequência observamos uma placa com os dizeres: Silêncio é prece. As pessoas costumam chegar aos templos religiosos, assentar-se próximo umas às outras, baixar a cabeça e silenciar a boca, manifestando um aspecto de equilíbrio. Ledo engano. O campo mental está um verdadeiro tumulto, uma algazarra, e o silêncio é apenas da boca para fora. Seria muito mais produtivo se utilizassem o verbo abençoado para cantar, liberando emoções saudáveis e estimulando a alegria, a jovialidade. Empregariam, assim, a força de seu pensamento em algo construtivo, visando ao bem-estar comum; isso, sim, prepararia realmente as pessoas, deixando-as receptivas à palavra do Evangelho. A música alegre e elevada estimula a mente para criações mentais superiores e suaviza emoções conturbadas.

É tanto silêncio em determinadas reuniões espíritas que muita gente dorme no assento e, como se não bastasse o vexame, afirma depois que estava desdobrada. Acordam em meio à palestra e interpretam a saliva que lhes escorre pela boca como sendo ectoplasma! Roncam, outras vezes gritam mentalmente. Então, podemos verificar que silêncio, pura e simplesmente, nunca foi prece. O silêncio de muitas pessoas é eloquência mental. Gritam de forma ensurdecedora enquanto permanecem com as bocas fechadas. Enfim, precisamos da música de Aruanda em nossas casas espíritas, a música alegre e efusiva, entoada com coração.

Acontece que, até onde sei, grande parte das casas proíbe o cantar em suas dependências, mesmo da música que eleva...

É claro que isso ocorre com inúmeras casas espíritas. Todavia, isso se deve principalmente a seus respectivos dirigentes, que já perderam a alegria e o estímulo de viver. Muitos se comportam como museus ambulantes, cabisbaixos, sérios, isto é, ranzinzas, soturnos e mal-humorados. Intentam projetar seu estado íntimo no ambiente das casas que coordenam, e para justificar essa atitude infeliz, vale até dizer que não se pode cantar ou conversar por ordem dos mentores. Se há mentores assim taciturnos, precisam é de muita prece e terapia...

É, tem cada coisa acontecendo por aí em nome do equilíbrio e da disciplina...

Cada casa espírita ou espiritualista é o reflexo de seu dirigente, está aí uma realidade que não podemos negar. Se o coordenador ou a diretoria da instituição se caracteriza pela morosidade, pela atitude conservadora e antiprogressista, não gosta de estudar nem as bases deixadas por Kardec, fatalmente veremos um centro espírita imerso na escuridão, com um ambiente sob enganosa penumbra, tons de cinza nas paredes e no sorriso desbotado de muitos, aliás, geralmente poucos voluntários. Falta alegria e satisfação em servir, e toda mudança que possa arejar os velhos hábitos é a priori rejeitada.

Por outro lado, caso os dirigentes se caracterizem pela jovialidade, espontaneidade e alegria e sejam dados ao estudo, estimuladores do progresso espiritual, certamente presenciaremos uma reunião efusiva, descontraída, um ambiente bem iluminado por lâmpadas, sorrisos e vibrações elevadas. As cores dessa casa refletirão o estado íntimo de seus dirigentes e frequentadores, primando pela leveza e pelo bom-humor.

Portanto devemos ser adeptos fervorosos da interpretação espírita codificada por Allan Kardec, aprendermos a cantar com os pretos-velhos e deixar a alegria extravasar de nosso interior, celebrando a oportunidade de aprender com as leis da vida.

Fonte: Trecho do Livro: Aruanda -  Robson Pinheiro

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